Entrevista com a Secretária de Educação do Rio de Janeiro


Conheça a Secretária de Educação do Rio de Janeiro

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O Rio de Janeiro já se tornou a maior rede municipal de ensino do Brasil. Com 690 mil estudantes, 1.064 escolas e 38 mil professores. A atual secretária municipal de Educação é Claudia Costin, mestre em Economia e doutora em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas.O qual já foi professora em uma universidade canadense, ministra do governo federal, gerente no Banco Mundial, entre outros cargos.

Desde que recebeu o cargo de Secretária, ela tem investido e lutado pela melhoria na educação carioca, como é o fato de ter terminado com a polêmica "aprovação automática" e com isso os alunos passaram a estudar mais e a qualidade do ensino do Rio melhorou bem mais.

A secretária também proibiu as ‘pulseirinhas do sexo’, bonés, uso de celulares em sala de aula, entre outras normas. Além de ter investido para melhorar o desempenho dos estudantes, reduzir a distorção idade-série, aumentar a alfabetização no estado, e enfrentar a violência na escola.

Abaixo está uma entrevista completa com Claudia Costin, uma mulher visada por grande parte dos cariocas, por ter a mão a arma para o crescimento do Rio de Janeiro: A educação e o futuro da cidade.

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O DIA: No ano passado, a Secretaria de Educação acabou com a aprovação automática, realfabetizou 12 mil crianças e criou adicional para professores em áreas de risco. Um ano após a implantação dessas medidas, que avanços puderam ser observados nas escolas?

Claudia Costin: Temos muito a celebrar. Tivemos grande avanço no primeiro segmento (1º ao 3º ano do Ensino Fundamental). Percebemos que as notas melhoraram e verificamos que caiu a diferença de desempenho entre os alunos das Escolas do Amanhã, situadas em áreas conflagradas, e a média da rede nas turmas de 1º ao 5º ano. Ampliamos para um terço da rede as escolas em tempo integral, levando oficinas de artes, Educação Física e reforço escolar no contraturno. Começamos a deixar claro para as famílias e os próprios professores que a aprendizagem é importante. Este ano, partimos de uma base construída e começamos com revisão de 30 dias de Português e Matemática em todas as séries.

Nas escolas particulares, as crianças são alfabetizadas no 1º ano do Ensino Fundamental. Na escola pública, os alunos levam três anos para ler e escrever. O que está sendo feito para reduzir esse prazo?


Em novembro, vamos fazer pela primeira vez uma grande avaliação externa com os alunos da alfabetização. Acredito que é possível alfabetizar em 1 ano e consolidar em mais 2, como as escolas privadas fazem. Pelo Plano Estratégico da Prefeitura do Rio, até o fim de 2012, 95% das crianças com 7 anos deverão estar alfabetizadas. Queremos nos organizar para superar essa meta e surpreender o município. Só que nós vamos alfabetizar as crianças com 6 anos. Acredito que com a qualidade dos professores cariocas, que é excepcional e muito acima da média nacional, nós vamos conseguir avançar bastante. Temos só que tomar cuidado com a filosofia do ‘coitadinho’. Achar que nossos alunos, por serem pobres, de famílias desestruturadas, não têm condições de aprender ou fazer dever de casa. Se olharmos para nosso aluno assim, estaremos condenando ele a um ‘apartheid’ educacional, estaremos dizendo que ele começa perdendo desde o início. Não podemos aceitar. Se a escola privada alfabetiza em 1 ano, nós também podemos, embora o desafio seja muito maior.

Qual a importância de se ter uma rotina de provas bimestrais e um provão no fim do ano?

Não se pode chegar a cada dois anos e dizer: ‘Nós estamos mal’. É preciso ter avaliação que permita identificar a evolução ou piora de cada escola e de cada criança. Passamos a medir mês a mês a evolução. Aplicamos no fim de cada bimestre provas de Português e de Matemática. Em outubro, aplicamos prova externa para o 3º e o 7º ano, que no ano que vem farão a Prova Brasil. Os resultados das provas bimestrais, que são corrigidas pelos professores, praticamente coincidem com o desempenho da avaliação externa, o que mostra a seriedade da correção dos nossos professores.

Quando os alunos da rede municipal começam a ter aulas de Inglês, visando aos Jogos Olímpicos?

No segundo semestre terá início o projeto Rio Criança Global, que introduzirá a disciplina no 1º, 2º e 3º anos do primeiro segmento. Já fizemos o concurso para selecionar professores de Língua Inglesa, que já vão estar nas salas de aula no retorno das férias de julho. Nos organizamos para incluir em 2011 as turmas do 4º ano e, em 2012, as do 5º ano. Com isso os alunos melhoram nas demais disciplinas e aprendem a se comunicar em inglês para serem os anfitriões das Olimpíadas em 2016.

Quais serão os principais problemas que a secretaria deverá atacar nos próximos anos?

O nosso maior desafio, onde nós ainda não conseguimos avançar, está no segundo segmento, com os alunos do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental. Nessa etapa, os problemas se acumularam. As crianças ainda não conseguiram melhorar o seu desempenho como os do primeiro segmento. Em parte porque são estudantes muito mais velhos, com dois anos ou mais de defasagem em relação aos colegas. Eles são indisciplinados até por uma maneira de chamar a atenção. E desmotivados com o conteúdo dos livros, que são para crianças menores. A solução que encontramos foi agrupar alunos do 7º e 8º anos em classes especiais de aceleração com professores voltados para a faixa etária deles. Este ano, foram criadas 270 turmas com 9 mil estudantes que farão dois anos em um.


Quantos estudantes serão realfabetizados este ano?

O projeto vai atender 3.856 alunos do 4º e 5º anos do Ensino Fundamental. Metade deles estuda em Escolas do Amanhã. Mas não basta alfabetizar. Temos que melhorar a capacitação dos professores. Ano passado, 2 mil fizeram cursos.


Pais e alunos reclamam da falta de professores em escolas da rede, principalmente naquelas situadas em áreas de risco. A última chamada de concursados resolve em definitivo a carência de professores?

Quando eu cheguei, no ano passado, faltavam 7.500 professores. O Rio havia atingido o limite da Lei de Responsabilidade Fiscal e por isso só puderam ser repostos 3.500 professores. As vagas foram supridas por contratos de dupla regência. No começo do ano, foram convocados mais 2 mil professores, que já chegaram às escolas. Fizemos mais uma chamada de 600 professores, que estão terminando os exames médicos. A previsão é que até o fim deste mês já estejam trabalhando em turmas do 1º ao 9º ano. Criamos novas estratégias de reposição. A cada mês, repomos as aposentadorias do mês anterior. Antes elas iam se acumulando. Está praticamente equacionada.

Quais as regiões onde há maior carência de funcionários nas escolas?

Há falta de professores principalmente na 10ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), que atende os bairros de Santa Cruz e Paciência, e nas Escolas do Amanhã, que ficam em áreas conflagradas. Naturalmente, o professor iniciante se sente mais temeroso de trabalhar nesses locais, embora a gente não tenha nenhum registro de funcionário que tenha sofrido qualquer violência nessas comunidades.

Nos últimos meses, ocorreram episódios violentos no noticiário envolvendo alunos e professores da rede municipal. Que medidas estão sendo tomadas para resolver este problema?

Violência nas escolas já acontece há muitos anos em toda grande metrópole, como o Rio, especialmente entre alunos do segundo segmento. A escola tenta ser um santuário, mas há limites para isso. É muito importante trabalhar as famílias. Distribuímos 650 mil cartilhas para que os pais passassem a valorizar o professor do seu filho. Em todas as Escolas do Amanhã, colocamos mães educadoras, que recebem uma pequena ajuda de custo. A presença delas é pacificadora. Estudos da Unesco comprovam que a presença das mães traz equilíbrio na hora do recreio.

De que forma as famílias podem auxiliar o trabalho do professor?

Não adianta só contratar agentes educadores. No Guia da Educação em Família, os pais são orientados a participar mais da vida escolar. Eles devem procurar fazer com que seus filhos realizem as tarefas mandadas para casa e passem a frequentar as aulas devidamente uniformizados.

Uma das queixas das escolas é que faltam funcionários para tomar conta dos alunos. Um papel que na maioria das vezes recai sobre professores e diretoras da unidade, que vão acumulando funções. Novos servidores vão ser convocados?

No início do ano, o prefeito Eduardo Paes autorizou a contratação de 300 agentes educadores, que já estão fazendo exame médico. Chamamos mais 26 concursados para cobrir aposentadorias para escolas do segundo segmento. Aos poucos, vamos solucionando essa situação. A contratação de agentes educadores não vai impedir a violência. Mas são elementos que ajudam a reduzir os conflitos.

Que outras medidas foram tomadas para garantir segurança nas escolas?

Vamos capacitar professores e diretores para aprender a lidar com situações conflitantes. A vida em sociedade é cheia de conflitos. Na escola, não basta punir. Todos devemos aprender com essas situações. Inicialmente, o curso de Mediação de Conflitos será dado para funcionários que trabalham com o 2º segmento e nas Escolas do Amanhã, em comunidades conflagradas. A vigilância deve ser constante, pois essas situações prejudicam a aprendizagem, mas ajudam a desenvolver valores.

Este ano, as escolas ganharam um Regimento Escolar que, entre outras medidas, proíbe as chamadas ‘pulseiras do sexo’, bonés e aparelhos eletrônicos. Como ele foi recebido por alunos e professores neste primeiro mês de implantação?

As escolas já estão usando o regimento. Houve um caso em que dois estudantes se agrediram, sem gravidade, e foram advertidos com base no código. Recebo por dia 450 e-mails e tenho 5.800 seguidores no Twitter (@claudiacostin). Ninguém escreveu para criticar. Muitos já pediam regras claras. Recebemos mais de 300 sugestões. Quase um manual de convivência na escola, com as condutas que deveriam ser adotadas para melhorar a relação de alunos e professores.

O que mudou com as novas regras? As famílias aceitaram o regimento?

As escolas estão discutindo com pais e alunos as novas normas numa linguagem clara. A princípio, elas parecem simples, mas não são. Uma delas estabelece que o aluno é quem espera o professor na sala de aula, e não o contrário. O professor deve ser visto como um visitante ilustre. Ele deve ser valorizado no seu ambiente de trabalho. A proibição do boné nas escolas é outro ponto. Quando está na presença de quem você respeita, é preciso tirar o chapéu. Ele dá respaldo aos professores, que passaram a ter um instrumento na mão. O Estatuto da Criança e Adolescente (ECA), que é um avanço, trouxe certa insegurança para os educadores, que não sabiam como agir em determinadas situações. O regimento é muito importante porque resgata a autoestima do professor.



Texto escrito e postado por Rafael Oliveira, 9 de Maio de 2010
Reportágem de Maria Luisa Barros - extraída do jornal O DIA, 9/5/10

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